terça-feira, 15 de março de 2011

168 ANOS DE PETRÓPOLIS

TERREMOTO NO JAPÃO: MENSAGENS DAS VÍTIMAS E DE DEUS

Prof. Dr. Frei Antônio Moser
Pode-se dizer que tremores de terra e terremotos não se constituem em novidade no Japão. Com maior ou menor intensidade, seriam uns 5 mil por ano. Entretanto, o terremoto do dia 11 de março, seguido de tsunami, não é apenas o maior da história daquele país, como também um dos maiores da história da humanidade. Esse episódio enviou ao mundo mensagens múltiplas e profundas.
Inicialmente destaca-se o contraste entre a intensidade dos fenômenos ali ocorridos e o número de mortos e desaparecidos. Enquanto que no Haiti, terremoto menos intenso e não acompanhado de tsunami acarretou a morte de 230 mil pessoas, no Japão contabiliza-se cerca de 15 mil vidas, entre mortos e desaparecidos. Obviamente, essas 15 mil pessoas acidentadas são sinal da ocorrência de grande tragédia, mas o que se ressalta é a proporção até certo ponto contrastante.
Tal contraste traz à tona alguns fatos que nem sempre são notados. O primeiro deles é que o Japão, pais pequeno e construído numa região geologicamente perigosa, há muito tomou consciência de sua fragilidade. Em decorrência disso, houve maciço investimento na prevenção de vidas. Basta notar que foram relativamente poucos os prédios que desmoronaram, pois foram planejados para enfrentar terremotos e outros fenômenos reveladores da força da natureza.
A mesma consciência de fragilidade os levou a desenvolver tecnologias sempre mais sofisticadas de alerta, permitindo prever com certa antecedência ocorrências fora do normal. Assim, alarmes levam a população a tomar conhecimento do que está por vir.
Não bastaria, contudo, apenas esse tipo de investimento; o maior deles consiste em treinamentos periódicos da população para que saiba agir diante de tragédias anunciadas. Os japoneses não apenas criaram inúmeros abrigos, como também têm treinamento para procurarem locais mais seguros. Não apenas criaram “O dia da prevenção”, mas, já a partir dos primeiros anos de escolarização, os alunos recebem treinamentos para tal.
Estas são algumas das mensagens que os japoneses enviam a todo o mundo: a melhor defesa consiste na tomada de consciência da própria fragilidade e em medidas rigorosas de prevenção. Certamente não é isto o que ocorre na maioria dos países, que, além de não detectarem e mapearem seus prontos frágeis, custam a entender que as forças selvagens da natureza podem ao menos ser minoradas, diminuindo os danos. Nesse contexto, certamente o Brasil também tem muito a aprender. Constantemente, nas mais variadas regiões ocorrem enchentes causadoras de estragos gigantescos. No entanto, tem-se a impressão de que tais fatos caem rapidamente no esquecimento.
É claro que, por mais inteligentes e diligentes que sejam, os japoneses, desta vez, foram surpreendidos não apenas pela violência das forças da natureza, mas também pelos riscos que certas tecnologias trazem consigo. Evidencio as usinas nucleares, que fornecem 30% da energia consumida naquele país. São mais de 50 usinas atômicas que, de uma forma ou outra, podem se transformar em bombas com enorme poder destruidor. Aquilo que nos últimos anos passou a ser uma quase unanimidade como forma de energia alternativa e aparentemente “limpa”, agora volta a levantar grandes e sérias interrogações. Basta pensar que, apesar de todos os progressos, até hoje ninguém sabe o que fazer com o “lixo atômico”, constituído de elementos extremamente radiativos e com capacidade de manter sua força deletéria por tempo incalculável.
Essas são algumas das muitas “lições” que podem ser tiradas do que ocorreu no Japão. Mas, obviamente, em tal contexto cabe também uma leitura de cunho teológico. Longe de desmerecer o empenho e entusiasmo dos ecologistas contra todas as formas de poluição e depredação do meio ambiente. Sem qualquer sombra de dúvida, há grande negligência do ser humano quanto ao seu papel no contexto da criação, ocasionando grandes catástrofes. Contudo, no caso do Japão e de outras tragédias de porte semelhante, certamente podemos e devemos ler ao menos duas mensagens de Deus. Uma primeira: eu lhes confiei a administração de tudo, mas espero que saibam agir com sabedoria; uma segunda: nunca se esqueçam de que a condição humana é de fragilidade.
Que os seres humanos não se julguem onipotentes. Podem ser menos frágeis à medida que tomam consciência da condição criatural e somam forças, mas jamais podem esquecer que somente Deus é onipotente.